segunda-feira, 28 de maio de 2012

O poema que Borges nunca escreveu!


"Se eu pudesse novamente viver a minha vida,  
na próxima trataria de cometer mais erros.  
Não tentaria ser tão perfeito,  
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido. 
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.  
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,  
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,  
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.  
Iria a mais lugares onde nunca fui,  
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,  
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. 
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata  
e profundamente cada minuto de sua vida;  
claro que tive momentos de alegria.  
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente  
de ter bons momentos. 
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;  
não percam o agora.  
Eu era um daqueles que nunca ia  
a parte alguma sem um termômetro,  
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,  
se voltasse a viver, viajaria mais leve. 
Se eu pudesse voltar a viver,  
começaria a andar descalço no começo da primavera  
e continuaria assim até o fim do outono.  
Daria mais voltas na minha rua,  
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,  
se tivesse outra vez uma vida pela frente.  
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo"  

A poesia acima rodou o mundo e sempre se atribuía a José Luis Borges a autoria da mesma. Este poema foi  inscrito em camisetas, canecas de porcelana e cartões de natal...


Se não era Borges, então quem era o autor desse poema? Em 99, o jornal argentino "El País" desvendou o enigma: a autora de "Instantes" é uma poetisa norte-americana, Nadine Stair. "Instantes" foi publicado em 1978, oito anos antes que Borges morrera, em Genebra, aos 86 anos.
A bola de neve começou a rodar em 1983, quando o escritor Leo Buscaglia reproduz o mencionado poema em seu livro "Vivendo, Amando e Aprendendo" (excelente livro, por sinal! Eu recomendo!) e atribuía a autoria do poema a um homem que sabia que ia morrer. Em 1986, o norte-americano Harold Kushner, autor de livros como "Quem necessita a Deus?" publica " Cuando nada te basta, como dar sentido à tua vida" e na página 162 se lê: "Me lembro de ter lido uma reportagem sobre uma mulher dos Montes de Kentucky, onde se pedia que passasse uma revista em sua vida e reflexionasse sobre tudo o que havia aprendido. Com o típico toque de nostalgia que pinta toda evolução do passado, a senhora respondeu: 'Se eu pudesse viver novamente minha vida (...) Eu era um daqueles que nunca ia  
a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas" .
Depois da morte de Borges, uma revista argentina, especializada em psicologia, "Uno Mismo", publicou o poema com o título Instantes e sua autoria foi atribuída a Borges. A viúva do escritor, maria Kodama, conseguiu que a revista retificara a autoria do poema e também pediu ao Ministerio de Cultura e Educação que esclarecera quem foi a autora do poema, mas isso demorou oito anos... "Demorei em descobrir que esse poema foi publicado originalmente em inglês", afirma Kodama. Quando conseguiu reparar o erro, o poema já havia sido difundido nos quatro cantos do mundo. 
Ano passado, uma mulher proxima al vice-presidente confessou a María Kodama sua admiração por esses versos e sua identificação com o conteúdo. E dessa maneira reagiu Kodama: " Se Borges tivesse escrito isso, eu teria deixado de estar apaixonada por ele naquele momento".
"O poema, sem nenhum valor literário", continua Kodama, "desvirtua a mensagem da obra de Borges. Baseando-se em um nome famoso, tentando transmitir um sentido de vida completamente materialista sem qualquer busca da perfeição espiritual ou curiosidade intelectual".

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