
E seus avós? Não!
E seus pais? Também não!
Seus filhos falarão ou já falam igual a você? É muito provável que não.
Sabem o que isso significa? Que as línguas evoluem. Elas mudam o tempo todo. Criamos gírias e termos novos que se adequam à nossa necessidade. Tomamos termos emprestados de línguas estrangeiras. E, não contentes de emprestar palavras de outros cantos do mundo, também temos o costume de nos apropriar de uma palavra como se fosse nossa, como é o caso de muitos brasileiros que têm mania de"aportuguesar" palavras estrangeiras. Lembram do "abat-jour"? Agora ele é abajur... Isso só para exemplificar que ao modificar certas palavras, mudamos não só a escrita, mas também aspectos morfológicos, sintáticos, fonéticos, semânticos pra que fique mais fácil, rápida e prática a comunicação. Por isso o português que a sua bisavó falava com as amigas dela não tem muito a ver com o português que você fala hoje com seus amigos.
Agora pense em toda a história da humanidade desde os "Neandertais" (tive que buscar na rede para ver se ainda se se escrevia com "h") até a colonização da América. Diz a ciência que o Homo Sapiens surgiu na África e começou a se espalhar mundo afora desde então. A questão é que não se sabe ao certo se a capacidade de comunicação humana tal como a conhecemos hoje existe desde antes ou depois dessa "migração". Então é possível que tenhamos falado uma língua única no passado. É possível que cada "grupo" de humanos em partes diferentes do mundo tenham desenvolvido línguas diferentes.
O que sabemos é que existia uma língua comum falada em algum lugar entre a Europa e o Oriente Médio, o indo-europeu, a língua oficial do Império Romano. Esse indo-europeu foi se modificando do mesmo jeito que nós modificamos o português dos nossos bisavós hoje. Só que como o "Homo Sapiens" estava espalhado, em cada lugar ele se modificou de um jeito diferente e deu origem à maior parte das línguas ocidentais existentes hoje, do português ao russo, do alemão ao hindi.
Acho que é mais fácil pensar assim: hoje usamos "códigos" ou gírias que só o seu grupo de amigos entende? A lógica é mais ou menos essa. E aí chega um momento em que a forma com que você fala é tão diferente da forma como o pessoal do bairro vizinho fala que se tornam duas formas de linguagem diferentes. Agora, imaginem que aconteça o mesmo no mundo inteiro. Muitas maneiras de falar, não é? Dá margem a muito mais modificações e linguagens diferentes. Em 1500, o português que se falava aqui e o que se falava em Portugal era o mesmo. A distância, os hábitos e costumes fizeram com que aqui essa linguagem evoluísse de um jeito e lá de outro.
Dar a essas linguagens o status de "língua" é uma questão política, histórica e econômica. O português e o espanhol vêm ambos do latim e se desenvolveram ambos na península ibérica. Portugal já foi dominado pela Espanha e por isso tornou-se importante para Portugal separar as duas línguas (num momento em que o português e o espanhol tinham mais semelhanças que diferenças). O alemão propriamente dito só existe na mídia porque em cada cidade da Alemanha se fala um dialeto diferente. Às vezes a linguagem é mais parecida com o holandês (que já foi considerado dialeto do alemão) do que com o alemão que aprendemos em escolas de idiomas. O dinamarquês, o norueguês e o sueco são praticamente o mesmo idioma, falantes de uma língua se comunicam perfeitamente com falantes de outra. As diferenças entre eles são mais ou menos a diferença entre o português que se fala no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e em Fortaleza, por exemplo. Mas por fazerem parte da identidade de três nações diferentes, convencionou-se chamá-las de "línguas", e são hoje independentes entre si.
Espero não ter enrolado muito e sim ter respondido a pergunta!
